quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Chove lá fora e aqui...

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Anteontem o dia amanheceu engraçado. Quando fui me deitar, na noite anterior, estava trovejando, aqueles trovões majestosos, distantes e longos. Pensei "eita, vai chover". De manhã fui acordada pelo Pedro arranhando a minha porta. Apesar de ter uma birra inexplicável com porta fechada — ele não pode ver uma porta fechada que já vai arranhar pedindo para abrir, às vezes ele fica parado no meio da porta, para a gente não poder fechar; nesse ponto acho que ele é igual a mim, gosta de ter opções —, ele não é do tipo que acorda cedo para passar por uma porta. Normalmente ele só levanta quando o café já está na mesa.

Tentei ignorá-lo, mas ele arranhou insistentemente e eu não tive outra escolha senão me levantar e abrir a porta. Foi o tempo de eu retomar minha posição debaixo das cobertas e ele pulou na cama, bem no meu travesseiro, por pouco não aterrissou em cima da minha cabeça. Pediu para entrar debaixo da coberta. "Mas que diabo tá acontecendo com esse cachorro? Nem tá frio!". Cinco minutos depois — CABRUM! (os trovões tinham voltado, ainda majestosos, longos, mas incrivelmente próximos) —, lá vai o Pedro pra fora da cama. Ainda chamei "Pedro! Pedro! Volta aqui! Eu te protejo!", mas ele já estava arranhando a porta da Juliana. Ela abriu e escorraçou o pobre de lá, mas quando viu o desespero do coitado, quase arrombando a porta, abriu pra ele entrar. Um tempinho depois, lá está o Pedro atravessando a casa em direção ao quarto da Rosane (que fica com a porta sempre aberta). A cada novo trovão, ele mudava de lugar. Estava completamente apavorado, tadinho.

Mas o bizarro de tudo foi quando eu acordei de verdade e vi o sol se derramando preguiçosamente pela sala e pelo sofá. "Que esquisito!". Olhei pela janela da Rosane, o céu estava azul e límpido, no entando — CABRUM! — os trovões continuavam a reboar. "Mas que diabos?!". Fui até a cozinha olhar para o outro lado do mundo, e lá estavam, ainda pouco visíveis no meu estreito horizonte urbano, os raios e as nuvens carregadas. Terminei de tomar meu café e lá fora caía uma chuvinha, mas nem por isso os trovões deram trégua. Fui trabalhar e antes de ter me acomodado em minha mesa, o céu já estava despencando lá fora.

Quando abri a porta de casa, na hora do almoço, percebi que a desgraça estava feita. Minha poltrona estava pra fora do quarto. Só isso já me fez gelar. Entrei e minha vontade era sair correndo na direção oposta, possivelmente gritando. Meu quarto mais uma vez foi atingido pela enchente, que, pelo estrago, foi pior que as anteriores. Saldo: livros, fotos, sapatos, ventilador, tudo molhado, o armário dando sinais de que a ferrugem tá chegando e uma zona do baralho!

Fui cumprimentar o Pedro, estava com as patas e a barriga molhadas. "Ele andou a manhã inteira ná água, atrás de mim, enquanto socorria seu quarto" a Rosane falou. Os trovões não pararam, e ele passou o dia à base de uma fórmula plus do remédio homeopático que ele toma, para se acalmar.

À noite, eu dei uma arrumada na bagunça do meu quarto, liguei os ventiladores, para ver se alguma coisa secava, mesmo com toda a umidade ainda no ar, afinal, ainda estava chovendo. Volta e meia via o Pedro passando, mudando de esconderijo; não quis tomar café, não quis bolacha, estava morrendo de medo. Quando fui tomar banho, lá estava ele, sozinho e encolhido no banheiro escuro. Ficou lá comigo e, num trovão mais forte — "Calma, filho!, é só a chuva! Pedro, ond... PEDRO, CÊ TÁ MALUCO???" —, se enfiou debaixo do chuveiro!

Ele odeia água, morre de medo, detesta tomar banho e não entra no banheiro de jeito nenhum, e se enfiou debaixo do chuveiro porque estava com medo do trovão! Realmente, ele está precisando aumentar a dosagem do remédio!

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